As varizes dos membros inferiores foram a principal causa de afastamento do trabalho por doenças do aparelho circulatório no Brasil em 2024, com 27.382 registros de concessão de Auxílio por Incapacidade Temporária de Natureza Previdenciária. O número é superior ao de afastamentos por acidente vascular cerebral (18.916), insuficiência cardíaca (18.696) e infarto agudo do miocárdio (14.958), segundo o Ministério da Previdência Social.
Nos últimos cinco anos, as varizes foram responsáveis por 95.100 concessões de benefícios previdenciários, o que representa 14,4% dos cerca de 660 mil relacionados a doenças circulatórias no período. O quadro se caracteriza pela dilatação e tortuosidade anormais das veias superficiais, decorrentes do mau funcionamento das válvulas venosas, que são responsáveis por bombear o sangue de volta ao coração.
Os sintomas surgem de forma progressiva, com frequência antes das marcas na pele. “Quando o paciente sobrecarrega o sistema venoso por ter ficado muito tempo em pé ou torcido a perna, por exemplo, ele vai ter inchaços, dores, formigamentos, câimbras e uma sensação de perna cansada”, explica Marcelo Grill, cirurgião vascular e flebologista da Clínica Miyake.
De acordo com Rodrigo Kikuchi, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) e preceptor de Cirurgia Vascular da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, as varizes podem acontecer por uma série de razões. Uma delas é a própria tendência pessoal, mas o quadro também pode ser influenciado pelo estilo de vida.
“Existem alguns fatores desencadeantes, como ficar muito tempo em pé, a obesidade, o número de gestações e a fraqueza ou falta de movimento muscular, além de questões hormonais que podem estar envolvidas no surgimento. Quanto mais fatores de risco a pessoa tiver, maior a possibilidade de sofrer com a doença”, detalha Kikuchi, líder do Registro Brasileiro de Doença Venosa Crônica (BRAVO), estudo multicêntrico sobre o tema apoiado pela farmacêutica Servier.
Esses fatores ajudam a explicar por que algumas profissões estão mais expostas ao problema. Profissionais em atividades que exigem longos períodos em pé, como balconistas e atendentes, estão entre os mais acometidos. Mas, segundo Kikuchi, a permanência excessiva na posição sentada também contribui para o surgimento das varizes.
“O movimento e a contração da musculatura são benéficos porque favorecem o retorno venoso. Por isso, ter mesas que se elevem ou utilizar apoios para os pés pode ajudar a reduzir o risco”, afirma.
Outra recomendação é a realização de atividade física, como musculação, pilates e corrida. “É essencial não apenas para reduzir a quantidade de ocorrências, mas também para auxiliar quando a doença já está instalada. São as contrações musculares, associadas à capacidade de mantê-las de forma eficiente, que melhoram o retorno venoso. Com isso, a pressão nas veias diminui, o que reduz o risco de novas varizes e facilita o tratamento da doença já existente”, explica Kikuchi.
Caso não tratadas, as varizes podem evoluir para úlceras venosas, feridas dolorosas e de difícil cicatrização que comprometem a qualidade de vida e a capacidade produtiva. Além disso, pacientes que convivem com o quadro têm um risco aumentado de sofrer com trombose venosa profunda, por conta da dificuldade de circulação. Segundo estimativas globais, as varizes podem afetar até 30% da população mundial. No Brasil, estima-se que mais de 63 milhões de pessoas são acometidas pelo quadro, sendo mais de 2 milhões com úlceras venosas.
Tratamento
O tratamento ocorre em diferentes frentes, de acordo com a condição do paciente. No caso da insuficiência venosa, por exemplo, existem abordagens cirúrgicas e não cirúrgicas.
“As técnicas cirúrgicas tradicionais são conhecidas há bastante tempo e apresentam bons resultados, embora sejam mais invasivas. As técnicas termoablativas, que utilizam laser ou radiofrequência, são menos invasivas, mas ainda cirúrgicas. Já as técnicas ambulatoriais, como a aplicação de substâncias por injeção, podem ser realizadas diretamente em consultório”, diferencia Kikuchi.
Recentemente, uma nova tecnologia que usa realidade aumentada passou a ser adotada em hospitais e consultórios. O equipamento projeta em tempo real, sobre a pele do paciente, imagens em alta definição da anatomia venosa, indicando veias não visíveis a olho nu e permitindo um melhor planejamento do tratamento.
Além dessas opções, existe o tratamento clínico. “Consiste na terapia compressiva, realização de exercícios físicos e o cuidado geral com a saúde, evitando a obesidade e o sobrepeso”, pontua Kikuchi.
Fonte: Estadão