Uma redução de 30% no consumo de cigarros no Brasil poderia evitar 139 mil mortes relacionadas ao tabaco em dez anos e gerar uma economia de mais de R$ 170 bilhões, revela estudo divulgado nesta quinta (27), Dia Nacional de Combate ao Câncer. O tabagismo é responsável por 25% das mortes globais por câncer .
O levantamento, realizado pelo IECS (Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria), da Argentina, a pedido da ACT Promoção da Saúde, reforça um consenso internacional de que manter preços elevados e reajustados regularmente é a estratégia mais custo-efetiva para reduzir o consumo de produtos nocivos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Banco Mundial.
No Brasil, depois de oito anos sem correções, o preço mínimo do cigarro subiu de R$ 5,00 para R$ 6,50 em 2023, mas ainda muito abaixo do ideal. Segundo a Receita Federal, se fossem considerados a inflação acumulada e o crescimento da renda per capita, o valor deveria ter chegado a R$ 11,88 em março de 2024.
A defasagem contribuiu para um barateamento real do cigarro_ hoje um dos mais acessíveis do mundo_ e para o aumento recente da prevalência de fumantes identificado pelo Vigitel 2024, segundo Mariana Pinho, coordenadora do projeto de controle do tabaco da ACT Promoção de Saúde.
Ela afirma que, para ter impacto na saúde pública, as alíquotas do cigarro devem ser altas o suficiente para encarecer o produto e reduzir o consumo. “Neste momento, o governo tem tudo para implementar uma medida mais eficaz.”
Para pressionar por políticas mais robustas, a ACT e a Vital Strategies lançam também nesta quinta a campanha O Barato que Sai Caro, com peças em redes sociais, rádios e painéis eletrônicos. A iniciativa defende medidas como atualização anual do preço mínimo e aumento dos impostos específicos.
Essa discussão ocorre em meio à implementação da reforma tributária, que incluiu os produtos de tabaco no novo imposto seletivo_mecanismo criado para desestimular itens prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Levantamento do Datafolha indica que 74% da população apoia reajustes anuais no preço do cigarro.
Os autores do estudo afirmam que a defasagem no preço do cigarro tem impacto direto nas doenças e mortes evitáveis e ressaltam que o tributo não tem apenas função arrecadatória: “Medidas fiscais salvam vidas, especialmente entre jovens e populações vulneráveis”, diz um trecho do trabalho.
Atualmente, 9,3% dos adultos brasileiros fumam. O tabagismo provoca 486 mortes por dia_177 mil por ano_e responde por 11,3% de todos os óbitos entre pessoas acima de 35 anos.
As doenças associadas ao cigarro seguem liderando as estatísticas: só em 2025, o país deve registrar 1,68 milhão de casos atribuíveis ao tabaco, incluindo diabetes tipo 2 (930 mil), doença pulmonar obstrutiva crônica (441,5 mil), câncer de pulmão (35 mil), cânceres diversos (45,9 mil), doenças cardíacas (119,7 mil) e acidentes vasculares cerebrais (40 mil).
O prejuízo econômico também é expressivo: são R$ 160 bilhões de perdas anuais, ou 1,36% do PIB (Produto Interno Bruto), somando gastos médicos diretos anuais(R$ 75 bilhões), o que equivale a 7% do gasto total em saúde, e R$ 85 milhões em custos indiretos com perda de produtividade, devido à morte prematura, incapacidades e trabalhos informais.
A arrecadação tributária federal com a venda de cigarros foi de R$ 8 bilhões em impostos federais em 2025, valor que só cobre 5,2% das perdas geradas pelo tabagismo neste ano, segundo o estudo.
As projeções do IECS mostram que reduzir o consumo em 30% ao longo de uma década evitaria:139.154 mortes; 96.754 eventos cardíacos; 79.897 AVCs; 66.502 novos casos de câncer e 222.939 casos de DPOC.
No plano econômico, os ganhos totais seriam de R$ 171,1 bilhões_ dos quais R$ 150 bilhões correspondem a economias por custos evitados, que incluem R$ 71,2 bilhões de gastos diretos com saúde.
De acordo com o estudo, o impacto do tabagismo sobre a mortalidade e a qualidade de vida é diretamente responsável pela perda anual de mais de 5,8 milhões de anos de vida por mortes prematuras e incapacidades ligadas ao cigarro.
O estudo da IECS é uma extensão de trabalhos anteriores sobre a carga de doença, mortalidade e custos relacionados ao consumo de tabaco. O instituto também realiza pesquisas para o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Os resultados foram obtidos por meio de um modelo matemático que permite estimar as probabilidades de que as pessoas adoeçam ou morram em decorrência de cada uma das principais doenças associadas ao tabagismo.
O modelo é uma microsimulação probabilística que simula a progressão dos indivíduos ao longo do tempo, considerando a história natural das doenças, os custos médicos diretos, os custos indiretos como perda de produtividade, e as perdas na qualidade de vida associadas às principais doenças atribuíveis ao consumo de tabaco.
Fonte: Folha de S. Paulo


