Pessoas em busca de longevidade estão tomando suplementos de NAD+. Eles funcionam?

Especialistas alertam que mais estudos são necessários — Foto: Tony Cenicola/The New York Times

As células do nosso corpo se decompõem naturalmente à medida que envelhecemos, dificultando a recuperação de doenças e lesões na terceira idade. E se você pudesse tornar suas células mais resistentes a danos para evitar esse declínio?

Essa é a ideia por trás do aumento de NAD+, uma terapia de longevidade da moda. O dinucleotídeo de nicotinamida adenina, ou NAD+, é uma molécula encontrada em todas as células e essencial para reparar danos, gerar energia e promover a cicatrização.

Os níveis de NAD+ diminuem com a idade, e alguns cientistas acreditam que aumentar esses níveis por meio de infusões ou suplementos pode potencialmente retardar o processo de envelhecimento. No entanto, alertam que os tratamentos não são regulamentados e, em grande parte, não são comprovados.

Pesquisas em camundongos apoiam fortemente o uso de algumas terapias que aumentam o NAD+ para um envelhecimento saudável, de acordo com Daniel Craighead, professor assistente de fisiologia do exercício na Universidade de Minnesota, que estudou o NAD+. Ele ressalta que os cientistas não sabem se as terapias atualmente no mercado melhoram significativamente a expectativa de vida ou a saúde em humanos.

— A literatura é muito escassa sobre longevidade e longevidade. A ciência é quase inexistente — ecoou Jonas Thue Treebak, professor associado do Centro de Pesquisa Metabólica Básica da Fundação Novo Nordisk da Universidade de Copenhague.

Isso não impediu que pessoas — incluindo influenciadores e especialistas em longevidade como David Sinclair e celebridades como Joe Rogan — experimentassem os tratamentos.

O que os pesquisadores sabem até agora

Níveis de NAD+ abaixo de um certo limite estão correlacionados a um risco maior de disfunção de órgãos e tecidos, segundo Shin-ichiro Imai, professor de medicina ambiental na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis.

Muitos especialistas que estudam o NAD+ também têm laços financeiros associados. Por exemplo, Imai recebe royalties sobre patentes de alguns produtos relacionados ao NAD+. Mas os cientistas ainda estão debatendo se o declínio do NAD+ realmente acelera o processo de envelhecimento ou se está apenas associado a ele.

— Não acho que se possa dizer que há ou não evidências de que o NAD+ impulsiona o processo de envelhecimento — afirma Eduardo Chini, professor de farmacologia que dirige um laboratório de pesquisa metabólica na Clínica Mayo em Jacksonville, Flórida.

Chini tem uma patente sobre um medicamento que bloqueia uma proteína associada à quebra do NAD+, mas disse que não apoiava o uso desses tipos de inibidores ou terapias até que ensaios clínicos em larga escala comprovassem seus benefícios.

Além de tentar entender melhor o papel da molécula no envelhecimento, os pesquisadores estão investigando a melhor maneira de aumentar seus níveis no corpo.

O reforço de NAD+ é um termo genérico para diversas terapias de longevidade atualmente disponíveis no mercado. Estas incluem infusões ou comprimidos de NAD+, bem como tratamentos que utilizam moléculas menores, chamadas “precursores”, que se convertem em NAD+ quando ingeridas. Entre elas, estão o mononucleotídeo de nicotinamida, ou NMN, e o ribosídeo de nicotinamida, conhecido como NR.

Muitos especialistas acreditam que a molécula NAD+ é grande demais para ser absorvida pelas células e que os precursores têm mais potencial para o antienvelhecimento.

As primeiras evidências sobre o aumento de NAD+ em camundongos (incluindo um estudo no qual o Imai trabalhou) mostraram que os roedores que receberam tratamentos com NMN viveram mais e permaneceram mais saudáveis ​​do que aqueles que não receberam os tratamentos, embora alguns estudos sugiram que os efeitos podem variar de acordo com o sexo.

Os estudos em humanos foram muito pequenos e os resultados, modestos. Uma análise de estudos focados na terapia com NMN para melhorar a saúde metabólica concluiu que infusões e suplementos orais apresentaram pouco ou nenhum benefício. Outro conjunto de estudos utilizando uma variedade de precursores encontrou leves melhorias na função celular e redução da inflamação.

Pequenos estudos focados especificamente no aumento do NAD+ em idosos e em pessoas com condições de saúde específicas demonstraram mais benefícios. Um estudo de 12 semanas com 60 indivíduos descobriu que o NMN melhorou ligeiramente a qualidade do sono de adultos saudáveis ​​na faixa dos 70 e 80 anos. Outro estudo com duas dúzias de mulheres pré-diabéticas descobriu que o NMN melhorou a sensibilidade à insulina, mas os pesquisadores observaram os indivíduos apenas por mais de 10 semanas.

— Em humanos, não foram realizados estudos que mostrem que elevar os níveis de NAD+ em idades jovens pode prevenir a perda de NAD+ à medida que envelhecemos — comenta Treebak.

Tratamentos e riscos

Clínicas de longevidade oferecem infusões intravenosas semanais ou quinzenais, cobrando valores altos por sessão, e varejistas vendem comprimidos para serem tomados diariamente ou semanalmente, a partir de cerca de 20 dólares (107 reais) por mês. Alguns usam o próprio NAD+, enquanto outros usam precursores ou outras versões da molécula.

Como esses tratamentos são comercializados como produtos de bem-estar ou suplementos alimentares, eles não precisam ser revisados ​​ou aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) antes de serem vendidos aos consumidores. Consequentemente, as alegações dos fabricantes podem não ser apoiadas por evidências científicas, como aponta Jennifer Oliva, professora da Faculdade de Direito Maurer da Universidade de Indiana em Bloomington.

Também pode haver uma grande variação na dosagem e na qualidade dos produtos. Um estudo recente descobriu que a maioria dos suplementos de NMN contém uma quantidade da molécula diferente da anunciada. Em um e-mail para o The Times, um porta-voz da FDA afirmou que a agência não havia aprovado nenhum produto NAD+ para uso médico e que havia enviado cartas de advertência a empresas que comercializavam produtos NAD+ com alegações de saúde não comprovadas.

Se você decidir tentar aumentar o NAD+, os especialistas recomendam cautela.

— Embora estudos de curto prazo em humanos sugiram que essas terapias podem ser seguras, não sabemos quais podem ser os efeitos a longo prazo desses suplementos — orienta Craighead.

Para Joseph Baur, professor de fisiologia da Faculdade de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, também não está claro se o consumo excessivo de qualquer um desses suplementos pode causar danos a órgãos, incluindo o fígado. Estudos também observaram alguns efeitos colaterais potenciais, incluindo dores de cabeça e musculares.

Também é possível que esses tratamentos sejam mais eficazes para um conjunto diferente de pacientes. Alguns pesquisadores acreditam que há evidências mais sólidas de que as terapias com NAD+ retardam a progressão de doenças relacionadas à idade, como doenças cardíacas ou mal de Parkinson, em vez de retardar o envelhecimento celular em pessoas jovens e saudáveis, de acordo com Baur. (Ele prestou consultoria e recebeu financiamento para pesquisa de empresas que estudam o NAD+ e possui uma patente relacionada à molécula.)

Chini, por sua vez, também acredita que o NAD+ pode ser mais bem utilizado para combater doenças do que para retardar o envelhecimento celular. Ele também teme que a comercialização de seu uso em tratamentos de longevidade não comprovados possa desviar o foco do estudo de seu potencial para tratar doenças como o Parkinson.

— Muita propaganda enganosa pode prejudicar terapias reais — afirma.

Fonte: O Globo

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