Festas de fim de ano podem abalar pessoas em luto; guia ajuda a atravessar essa fase

Festas de fim de ano são especialmente difíceis para pessoas em luto. Foto: terovesalainen/Adobe Stock

O cenário festivo do fim de ano pode gerar desconforto em pessoas que estão vivendo um processo de luto. Ver outros sorrindo, comemorando e brindando nem sempre combina com quem tenta lidar com a dor da perda. É comum que esse sentimento se intensifique, especialmente no Natal.

Pensando nisso, foi elaborado um guia para ajudar pessoas enlutadas a atravessar as festas de fim de ano com mais acolhimento e estratégias de autocuidado. O “Guia para encarar as festas de fim de ano: informação e acolhimento para perdas e lutos” busca, inclusive, desmistificar o próprio luto.

A publicação é destinada a leitores que enfrentam desde a perda de um ente querido até o fim de um relacionamento, uma demissão ou a morte de um animal de estimação — também chamados de lutos não reconhecidos.

“Lutos não reconhecidos não são legitimados, validados ou acolhidos. Então a pessoa vive, além das reações naturais do luto, a sobrecarga de enfrentar tudo isso de forma mais isolada”, diz a psicóloga Gabriela Caselatto, especialista em luto convidada para assinar a orelha da obra.

“Eles (os lutos não reconhecidos) têm camadas de dor que vão além da própria perda”, acrescenta a jornalista Juliana Dantas, especialista em cuidados paliativos e uma das autoras do livro.

Para ela, o luto é como uma impressão digital: cada pessoa sente de um jeito. “É um sentimento individual; cada vínculo é um vínculo, e cada um tem fatores de proteção para lidar com a perda.”

A vida que continua

Comunicador, ativista sobre o luto e autor do livro ao lado de Juliana, Tom Almeida explica que as datas comemorativas são especialmente difíceis para pessoas enlutadas porque são marcos sociais que evidenciam a vida que segue.

Geralmente, as primeiras festas e datas, como o primeiro Natal, são os mais árduos. “É provável que seja mais desafiador, mas isso também não garante que os próximos sejam mais fáceis. Afinal, datas como essa colocam luz na falta”, diz.

O livro foi elaborado a partir de 2.700 depoimentos coletados nas redes sociais do Movimento InFINITO, coletivo que debate a temática do luto. Muitos dos relatos foram publicados em datas comemorativas como o Dia das Mães, outro momento que costuma despertar angústia. Ainda assim, segundo os autores, é como se o Natal concentrasse todos os lutos. “São as faltas na principal celebração do ano, quando as pessoas mais se encontram”, diz Juliana.

Os depoimentos também reforçam um ponto sensível desse período: a falta de acolhimento. Uma das principais queixas de pessoas enlutadas é a pressão social para “superar” rapidamente a dor e aproveitar as festas, o que acaba intensificando o sofrimento. Muitas relatam não encontrar espaço para expressar seus sentimentos sem julgamentos ou frases prontas.

Nesse sentido, o guia reúne sugestões para reconhecer limites pessoais, jogos que podem ser usados nessas datas e perguntas de autoconhecimento que ajudam o leitor a identificar o que dói, o que conforta e o que pode ser deixado para depois.

Para Gabriela, a publicação ajuda o enlutado a perceber que não precisa corresponder às expectativas externas e que é importante viver essas datas da maneira que for possível para si, e não como os outros esperam.

Tom acrescenta que a obra não se restringe às datas comemorativas. A proposta é ajudar o leitor a atravessar períodos difíceis e reconstruir sua relação com o mundo externo.

Ela também foi idealizada para orientar pessoas que convivem com alguém enlutado. “Lidar com o luto do outro envolve validar o que é importante para ele, evitar julgamentos ou respostas prontas, manter a escuta ativa e demonstrar interesse genuíno pela dor alheia”, ensina Gabriela.

Fonte: O Globo

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