Pergunta: Como faço para parar de me preocupar obsessivamente se as pessoas gostam de mim? Achei que, na meia-idade, eu me sentiria confortável o suficiente na minha própria pele para dizer “goste ou não goste”. Mas ainda fico chateado com até mesmo pequenas (ou imaginadas) rejeições. Por que isso ainda me incomoda tanto e como posso me importar menos?
Resposta: Se você está se concentrando demais na opinião que as pessoas têm de você, não está sozinho. Muitos dos meus pacientes sofrem com sentimentos profundos de rejeição quando acham que alguém não gosta deles, mesmo que nem sempre tenham certeza de que estão percebendo a situação de forma correta. Embora as pessoas possam ficar melhores em lidar com a rejeição com a idade, muitas não ficam. Mas isso não significa que você não possa melhorar com a prática.
Se conseguirmos entender por que nos importamos tanto em ser aceitos e aprender a levar qualquer tipo de rejeição menos para o lado pessoal, conseguiremos lidar melhor com o inevitável estresse social.
Por que nos importamos tanto com a forma como os outros nos veem
É normal querer ser visto de forma positiva e ser valorizado por quem somos, e esse desejo é útil quando se trata de se dar bem com os outros. Ele tem origem evolutiva: se um indivíduo fosse rejeitado por uma tribo, as chances de sobrevivência dos nossos ancestrais caíam drasticamente; ser querido pelos outros podia significar vida ou morte.
As pessoas com quem interagimos hoje não detêm o controle da nossa sobrevivência da mesma maneira, mas continuamos com o mesmo medo de sermos excluídos.
Se a aprovação e o amor dos seus pais dependiam de você se comportar de determinada forma, a necessidade de ser querido pode ser particularmente forte. Isso também é verdadeiro se você teve cuidadores rejeitadores, negligentes ou pouco confiáveis e cresceu sempre com medo de que os outros o abandonassem. Por fim, viver em um ambiente hostil a pessoas como você (com base em raça, gênero, orientação sexual, origem nacional, entre outros) inevitavelmente o torna mais atento a sinais de rejeição.
Além do nível individual, os americanos vêm mudando — de serem guiados principalmente por princípios e valores internos, incorporados na infância, para dependerem mais das expectativas e da aprovação dos contemporâneos —, como o sociólogo David Riesman já argumentava em 1950.
E a pressão para ser aceito pelos outros só se intensificou na era da internet e das redes sociais.
Como formamos opiniões sobre os outros
As primeiras impressões se formam extremamente rápido — às vezes em menos de um décimo de segundo — e, em sua maioria, fora da nossa consciência.
Imagine conhecer um colega de trabalho e o cheiro do seu xampu provocar nele uma reação negativa porque lembra o professor da segunda série de quem ele não gostava. Esse colega pode nem estar consciente do motivo dessa sensação, mas depois criar “explicações” que combinem com a emoção inicial. O pior é que as primeiras impressões são difíceis de mudar, mesmo diante de evidências contrárias.
Há inúmeras razões pelas quais os outros nos avaliam positiva ou negativamente. A opinião que alguém tem de você frequentemente reflete experiências, necessidades, preconceitos e estado emocional dessa pessoa, mais do que algo sobre você. Alguém que está tendo um dia ruim ou com fome pode ser crítico com todos ao redor. Ou pode projetar suas próprias inseguranças em você.
Saiba que você não vai agradar a todos. Uma vida sem rejeição significa que ou você está agradando tanto as pessoas a ponto de nem se reconhecer mais, ou você se retirou do convívio social — e nenhuma das duas coisas é receita para uma vida plena.
Tente assumir que as pessoas gostam de você
As pessoas podem não desgostar de você tanto quanto você imagina. Subestimamos consistentemente o quanto os outros gostam de nós, seja em conversas iniciais individuais, em pequenos grupos, em equipes de trabalho ou online.
A rejeição é, em parte, questão de percepção. Na próxima vez que achar que alguém está o evitando, pergunte-se: “Que evidências tenho de que essa pessoa está me julgando negativamente?” Pode ser apenas uma história que você está contando a si mesmo.
Além disso, quanto mais indesejados nos sentimos, mais propensos estamos a perceber reações negativas, porque presumimos que os outros nos veem da mesma forma que nós nos vemos.
Você também pode ter alta “sensibilidade à rejeição” — uma tendência a esperar ansiosamente e a perceber prontamente rejeição dos outros, especialmente em situações sociais ambíguas. Quem apresenta alta sensibilidade à rejeição às vezes fica frio e distante quando se sente rejeitado. Infelizmente, isso cria uma profecia autorrealizável, pois os outros tendem a reagir negativamente a esse distanciamento.
Em vez disso, trabalhe para criar uma “profecia de aceitação”: presuma que os outros vão aceitá-lo e aja de acordo. Isso pode colocar em movimento um ciclo positivo, fazendo com que as pessoas realmente passem a gostar mais de você.
Reduzindo a dor da rejeição
Para diminuir o impacto emocional da rejeição, você pode mudar a forma como conversa consigo mesmo. Por exemplo, certa vez comprei uma bebida na minha cafeteria favorita, e um novo barista pareceu irritado comigo. Depois que minhas tentativas de conversa agradável foram recebidas com respostas secas, pensei: “Por que ele não gosta de mim? Será que eu disse algo que o ofendeu?” Mesmo uma interação tão breve me deixou desanimada por um tempo.
Dá para imaginar como uma rejeição de alguém que você conhece e de quem gosta, ou que você respeita muito, pode realmente abalá-lo.
Uma maneira de amenizar o impacto de uma interação negativa é dizer: “Isso não saiu como eu esperava” ou, se acontecer no trabalho, “Minha ideia foi rejeitada”, em vez de “Eu fui rejeitado”.
Depois, concentre-se nos seus pontos fortes, talentos e valores, mesmo que não tenham relação direta com a rejeição. Essa afirmação amplia seu senso de identidade, de modo que uma ameaça em um domínio não pareça uma condenação de você como pessoa. Quando a mágoa inicial passar, considere se é possível extrair alguma informação ou feedback útil da rejeição.
Se você perceber que fica repetidamente ruminando sobre rejeições passadas ou preocupado com como será tratado no futuro, pergunte a si mesmo: “Será que realmente importa que pensem isso de mim?” Talvez perceba que as consequências reais são mínimas ou inexistentes. Outra estratégia é pensar em quanto a opinião de alguém sobre você vai importar em uma semana, um ano ou dez anos.
Por fim, seja gentil consigo mesmo quando se sentir mal por rejeições ou se preocupar em ser querido. Somos feitos assim, e se culpar só vai piorar. Melhor ainda: apoie-se em quem o ama para sentir o bálsamo da conexão humana e reforçar suas qualidades positivas.
Ser humano é, às vezes, enfrentar rejeição. Embora seja natural se importar se as pessoas gostam de nós, é possível aprender a se tornar mais resiliente às visões negativas dos outros em qualquer idade. Essa resiliência, por sua vez, ajudará você a continuar se expondo ao mundo.
Por Jelena Kecmanovic – via Estadão
Jelena Kecmanovic é psicóloga clínica na região de Washington e professora na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. Sua newsletter no Substack é No Delusions with Dr. K. Psychologist.