A apreensão aumentou em Brasília entre a noite de terça (7) e a manhã desta quarta (8), com o governo Lula enfrentando grandes dificuldades para a aprovação da MP dos impostos.
Ela visa garantir uma arrecadação de R$ 35 bilhões em 2026, afastando o risco de uma crise fiscal.
Lideranças de partidos que apoiam o governo e ministros de Lula fizeram as contas e concluíram que ainda faltam cerca de 50 votos para se chegar aos 257 necessários e garantir uma vitória, ainda que apertada, na Câmara dos Deputados.
Depois disso, a MP ainda precisa ser aprovada pelo Senado. Caso contrário, pode caducar, já que seu prazo de validade termina nesta quarta.
Um ministro afirmou à coluna que, pela primeira vez, começa a achar que o governo pode perder a votação. Na própria terça, o líder do PT, Linbergh Farias, reconheceu as dificuldades ao dizer que “tem uma turma querendo derrubar a MP. Estão cavando um buraco no Orçamento.”
O mesmo ministro afirma que a proximidade do ano eleitoral de 2026 estaria “contaminando o debate”, com líderes do Centrão e o próprio governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, trabalhando intensamente, nos bastidores, para parlamentares votarem contra a medida.
O governador paulista nega que esteja atuando contra a MP.
“Estou muito focado nos problemas aqui de SP”, afirmou ele em mensagem enviada à coluna. “Temos várias coisas aqui acontecendo. Essa questão é do Congresso”, seguiu.
Tarcísio negou também que esteja telefonando para parlamentares pedindo voto contrário à MP. “Não costumo fazer isso”, disse.
A atuação da oposição foi definida como “sabotagem” por um outro integrante do governo, que acredita que “a ideia deles [setores do Centrão e Tarcísio] é inviabilizar o arcabouço fiscal e criar instabilidade para o governo Lula”, obrigando o presidente inclusive a cortar o orçamento de programas sociais em ano eleitoral.
Seria, diz o mesmo político, a última chance de opositores interromperem a onda de notícias positivas do governo, cuja aprovação vem melhorando a cada mês, segundo as pesquisas divulgadas em período recente.
Com isso, conseguiriam enfraquecer Lula para dar competitividade a uma candidatura de oposição no próximo ano.
O governo, no entanto, não vai ficar parado e já estuda reações e alternativas para o caso de uma derrota, seguem auxiliares do petista.
A maior oposição visível à MP é a da bancada ruralista da Câmara, que conta hoje com cerca de 300 deputados e se posicionou contrária à medida, mesmo tendo diversos de seus pleitos atendidos.
A comissão mista da MP (medida provisória) que aumenta impostos aprovou na terça-feira (7) uma versão desidratada do texto, que poupa as bets (casas de apostas) da alta na tributação e mantém a isenção sobre rendimentos de títulos imobiliários e do agronegócio.
Mesmo com todas essas concessões, a medida foi aprovada por apenas um voto de diferença.
O placar de 13 a 12 na comissão se deu após dias de negociação entre deputados, senadores e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já antecipando as dificuldades do governo para a aprovação da medida, que hoje vai a plenário.
Ao fim da votação, o relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), reconheceu que as concessões não foram suficientes para garantir ao governo uma margem mais confortável de votos.
Fonte: Folha de S. Paulo



