Às vésperas de entrar em vigor uma sobretaxa de 50% sobre as exportações de todos os produtos brasileiros, prevista para sexta-feira, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda aguarda acenos de Washington para que seja aberta uma negociação formal para um acordo entre Brasil e Estados Unidos.
Segundo interlocutores que acompanham o impasse, o ideal é que o representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer, dê um passo à frente e volte a conversar com o governo brasileiro. Apesar das recentes conversas entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário americano de Comércio, Howard Lutnick, é Greer o principal responsável pela costura de acordos internacionais.
O representante participou de negociações com a China em Estocolmo, nos últimos dias, ao lado do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.
O retorno para os EUA do presidente Donald Trump e os principais integrantes de sua equipe, que estavam em visita à Escócia na terça-feira, pode ajudar a melhorar esse cenário, arriscam pessoas familiarizadas com o tema.
A avaliação é que, como a Casa Branca tem negociado e fechado acordos com vários parceiros internacionais, como Indonésia, Reino Unido, Japão e União Europeia, o Brasil espera sua vez na fila.
Nos últimos dois dias, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esteve em Nova York para participar de uma reunião da ONU sobre a situação na Palestina. Vieira indicou ao governo dos EUA que estaria disposto a ir até Washington para uma reunião de alto nível, caso fosse convidado.
O governo brasileiro espera uma resposta dos EUA sobre o que querem negociar com o Brasil, se há produtos que deveriam ser importados sem tarifas para o mercado americano, que bens poderiam ser vendidos livremente para o mercado brasileiro e que outros itens poderiam ser colocados sobre a mesa.
São exemplos do que é esperado a regulação das big techs, que chegou a ser discutida em reunião com um representante do Departamento de Comércio dos EUA, as empresas americanas e Geraldo Alckmin, nesta quarta-feira, e o interesse pelos minerais críticos e estratégicos, como terras raras, lítio e nióbio.
Sem conversa sobre Bolsonaro
Um problema que terá de ser encarado pelos negociadores brasileiros é dizer não para qualquer possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser um dos temas da conversa bilateral. Trump deixou claro que quer vincular o diálogo comercial ao tratamento dado a Bolsonaro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Tanto Moraes como outros magistrados da Corte tiveram seus vistos de entrada nos EUA suspensos recentemente, na forma de sanções.
A situação é delicada e, de acordo com auxiliares de Lula, uma conversa telefônica entre o presidente brasileiro e Trump teria de ter um preparo prévio. Existe a preocupação de o líder americano ser desrespeitoso, como aconteceu nos encontros que teve com os presidentes da Ucrânia e da África do Sul, Volodymyr Zelensky e Cyril Ramaphosa.
Desde março deste ano, havia uma negociação em curso entre os dois países. Na pauta, estavam a tarifa uma tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio importado pelos EUA do mundo inteiro e uma sobretaxa de 10% nas compras de todos os produtos brasileiros.
No entanto, na primeira semana de julho, Donald Trump anunciou uma nova taxa de 50% e ainda resolveu politizar a questão, envolvendo Bolsonaro.
Fonte: O Globo