A época de festas é um momento para agradecer, dar presentes — e, para muitos, um momento para retribuir.
Bancos de alimentos, serviços que entregam refeições para idosos e outras instituições de caridade nos Estados Unidos geralmente registram um aumento no número de voluntários entre o Dia de Ação de Graças (em novembro) e o fim do ano. Mas há bons motivos para ser voluntário em qualquer época.
Alfred Del Grosso trabalha como voluntário semanalmente no turno do almoço no Shepherd’s Table, um banco de alimentos em Silver Spring, Maryland. “Sinto-me mais conectado à comunidade em geral”, diz ele.
Na maioria das quintas-feiras, o químico aposentado de Kensington, Maryland, também oferece seu trabalho voluntário para ajudar a limpar árvores caídas e arbustos das trilhas locais com o Potomac Appalachian Trail Club. “São principalmente voluntários que ajudam a manter as trilhas”, conta.
Pesquisadores que estudam a evolução humana e a psicologia social afirmam que a generosidade está profundamente enraizada na natureza humana. Os voluntários dizem sentir laços mais fortes com as comunidades que apoiam.
“Quando nos sentimos gratos por tudo o que temos, isso nos motiva a fazer coisas boas por outras pessoas que nos ajudaram, e também a fazer coisas boas por novas pessoas”, afirma Sarah Schnitker, psicóloga da Universidade Baylor.
“Existe uma bela espiral ascendente de reciprocidade entre gratidão e generosidade”, que muitas vezes se intensifica em épocas festivas, acrescenta ela.
Para muitos nos EUA, a época mais associada a dar, receber e fazer trabalho voluntário vai do Dia de Ação de Graças ao Hanukkah e do Natal ao Ano Novo.
Mas há uma época de doações em muitas culturas ao redor do mundo, diz Amrisha Vaish, psicóloga do desenvolvimento da Universidade da Virgínia.
“Quase todas as culturas têm eventos ou festivais públicos que permitem às pessoas expressar gratidão”, conta ela. “No hinduísmo, o Diwali é uma época de luzes, festividades e boa comida, mas também um momento em que as pessoas oferecem presentes para realmente expressar o que os outros significam para elas.”
Para os muçulmanos, o Ramadã, que termina com o festival de Eid al-Fitr, é um período de reflexão, gratidão e atos de caridade. Muitas tradições budistas também enfatizam a gratidão.
O objetivo comum dessas épocas festivas, que também incluem atos de serviço não religiosos, é reforçar nossas tendências naturais de cooperação, afirma Amrisha.
“Ao longo da história evolutiva da humanidade, durante centenas de milhares de anos, tivemos que aprender a cooperar para trabalhar juntos e sobreviver como espécie”, diz ela.
“Não temos garras afiadas, alta velocidade ou muitas outras habilidades naturais. Mas somos super cooperativos; podemos fazer mais em grupo do que sozinhos.”
É claro que os seres humanos nem sempre são cooperativos e generosos — às vezes também somos egoístas e teimosos.
A tensão entre egoísmo e altruísmo já era reconhecida por Darwin, afirma Michael Tomasello, psicólogo da Universidade Duke. “É por isso que a vida é tão complicada. Temos todos esses motivos interligados.”
Mas refletir com gratidão sobre o que temos e ver os outros fazendo o bem pode incentivar nossas tendências mais generosas, dizem os especialistas.
Em nível individual, “doar, fazer trabalho voluntário e ser generoso têm o poder de aumentar nosso senso de significado e propósito na vida”, diz Jenae Nelson, psicóloga do desenvolvimento da Universidade Brigham Young.
“Há uma rápida descarga de dopamina, às vezes chamada de ‘euforia do ajudante’. Mas também existe aquela recompensa mais profunda de nos ajudar a encontrar propósito e significado”, diz ela. “Ao ajudar outras pessoas e acreditar que pequenos atos podem mudar o mundo, você pode trazer coerência à sua própria vida.”
Após se aposentar como enfermeira em Owosso, Michigan, Mia Thelen começou a trabalhar como voluntária na Cruz Vermelha Americana, inicialmente atendendo os telefones do escritório durante as campanhas de doação de sangue, antes de gradualmente assumir mais responsabilidades organizacionais e administrativas.
“É uma boa maneira de passar o tempo, tornando a vida dos outros um pouco mais fácil”, avalia Mia. “Eu queria fazer algo que ajudasse a comunidade.”
“E estou aprendendo muito: aprendendo informática, aprendendo a me comunicar. Tenho ótimos colegas voluntários.” Ela gosta de se sentir mais conectada com seus vizinhos.
Outra tradição comum durante as festas de fim de ano — enviar cartões de felicitações para familiares e amigos antigos — também oferece uma oportunidade de fortalecer ou renovar laços sociais, algo que as pessoas, surpreendentemente, muitas vezes relutam em fazer, afirma Lara Aknin, psicóloga social da Universidade Simon Fraser.
A pesquisa dela mostra que “as pessoas hesitam em entrar em contato com velhos amigos porque temem ser um fardo ou um incômodo”, diz. Mas, por outro lado, “pessoas que recebem notícias de velhos amigos relatam que é uma experiência muito positiva”.
Então, vá em frente e escreva aqueles cartões ou faça aqueles telefonemas, incentiva Lara. Use as festas de fim de ano como uma desculpa para se reconectar e compartilhar risadas.
Fonte: Estadão


