O auditório da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), em Cuiabá, foi palco de um importante debate sobre o futuro do envelhecimento na sociedade brasileira. O evento, promovido na última quinta-feira (12) pela Comissão de Amparo à Pessoa Idosa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) em parceria com a Associação Mato-grossense dos Municípios, contou com a palestra do renomado gerontólogo Alexandre Kalache, além de um público atento às questões do envelhecimento.
Durante a palestra do especialista que preside o Centro Internacional de Longevidade Brasil, foi destacada uma rápida transformação que a longevidade representa na atualidade. Isso porque, o século passado foi marcado pela conquista de sobreviver, com expectativas de vida que aumentaram significativamente ao longo de 125 anos. Porém, em 1900, a expectativa de vida mais alta do mundo era na Alemanha, com 46 anos, enquanto atualmente nenhum país registra expectativas de vida tão baixas como eram há um século. Segundo o especialista, quando nasceu, ele tinha uma expectativa de vida de 46 anos, mas ao completar seu curso médio, esse número já era de 57 anos, atualmente chega a 77 anos — um aumento de 31 anos, não simplesmente de velhice, mas de longevidade.
Alexandre Kalache ressaltou que o século XXI será marcado pela capacidade da sociedade de responder a essa revolução populacional, que ocorre de forma rápida e impacta todos os setores. “Estamos vivendo uma revolução da longevidade, com problemas de pobreza e desigualdade que precisam ser enfrentados. O objetivo é garantir uma melhor qualidade de vida e morte para essa população que envelhece cada vez mais”, comentou.
Uma das estratégias apontadas pelo especialista é a adoção do conceito de envelhecimento ativo, baseado nos princípios da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo Kalache, é fundamental que cada região, especialmente regiões remotas como Mato Grosso, adapte políticas públicas que promovam o envelhecimento digno. Nesse sentido, reforçou a necessidade de estudos e ações específicas para cidades, que estão cada vez mais urbanizadas, para que os idosos possam viver com autonomia e bem-estar.
O desafio, segundo o palestrante, é que o Brasil ainda não está totalmente preparado para essa mudança demográfica. Atualmente, há cerca de 33 milhões de idosos no país. A projeção indica que, até 2050, esse número mais que dobrará, atingindo cerca de 68 milhões de pessoas idosas. “Precisamos acelerar o planejamento para que as cidades estejam preparadas para receber esse crescimento, promovendo inclusão, acessibilidade e participação social dos idosos”, avaliou Kalache.
Durante o evento, também foi destacado o papel dos gestores e administradores públicos na conscientização e implementação de políticas públicas voltadas ao envelhecimento saudável. O desembargador Orlando Perri, presidente da Comissão de Amparo à Pessoa Idosa do TJMT, ressaltou a importância de despertar a sociedade para esse tema. “O grande problema hoje é o despertar de uma consciência coletiva sobre as políticas públicas para os idosos. Ainda não percebemos essa questão como problema central, muitas vezes invisível, que requer atenção urgente dos nossos gestores”, pontuou o desembargador.
O evento contou ainda com a presença do presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa de Cuiabá (COMDIPI), Jerônimo Urei, que destacou o papel fundamental de uma abordagem participativa, multissetorial e inclusiva para garantir autonomia e qualidade de vida aos idosos. “Nosso compromisso é promover uma transformação social que seja verdadeiramente inclusiva, onde os idosos tenham voz, participação e condições de viver com autonomia e dignidade. Isso envolve todos os setores da sociedade, incluindo governos, comunidades e famílias,” afirmou Urei, reforçando a necessidade de ações integradas e de um olhar atento às reais necessidades dessa parcela crescente da população.
