Em atuação surpreendente, Crefisa vence leilão da folha do INSS e deve ganhar mercado

Prédio do INSS — Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A Crefisa foi homologada ontem como a maior vencedora da disputa dos bancos que vão pagar os novos benefícios concedidos pelo INSS entre 2025 e 2029, por um período de até 20 anos. O certame começou na terça-feira e terminou ontem, com a homologação das propostas. Para analistas, foi uma atuação agressiva e surpreendente para ganhar mercado, ao dar ofertas superiores aos maiores bancos do país como Itaú e Bradesco.

Especialista no setor bancário, o economista João Augusto Salles, da Senso Investimentos, diz que o desafio da Crefisa será a retenção dos aposentados e pensionistas do INSS no médio e longo prazo, que podem optar pela portabilidade para outras instituições com mais infraestrutura. A troca de banco pagador pode ser feita a partir de 90 dias após o início do pagamento do benefício.

Uma das exigências do edital do INSS é a necessidade de pontos físicos de atendimento em todos os locais incluídos nos lotes, o que deixou de fora bancos digitais. A Crefisa consegue “driblar” isso com a rede de cerca de mil correspondentes bancários, mas falta escala à instituição financeira, dizem analistas.

O INSS paga em média 437 mil novos benefícios por mês, entre permanentes e temporários. O valor médio é de R$ 1.824:

— A Crefisa não tem escala para atender essa demanda de clientes. Ela vai poder usar os correspondentes bancários, mas a pergunta é se a instituição tem tecnologia suficiente para poder ser célere na questão dos correspondentes bancários. Bancões têm tecnologia de ponta, nada embrionária. Tecnologia financeira não é banal, não pode dar zebra, ainda mais na escala que estamos analisando. É uma questão de segurança bancária —analisa.

À espera da portabilidade

Salles diz que os grandes bancos não usaram todo o poder de fogo que têm para competir por uma questão chave que é a retenção de clientes

—Acho que eles estão acreditando que, lá na frente, vão abocanhar esses beneficiários via portabilidade, atraindo com conveniência, comodidade e infraestrutura.

Luiz Miguel Santacreu, analista do setor bancário da Austin Rating, avalia que a operação da Crefisa é uma tentativa de diversificação e busca também reduzir riscos:

— É uma estratégia de diversificação que surpreende, buscando uma carteira mais balanceada num mercado em que grandes bancos e players tradicionais têm muita força. Mas, do ponto de vista da inadimplência, ampliar a fatia no pagamento dos beneficiários do INSS dá a ela um risco menor. Não vai haver um calote do governo.

A instituição arrematou 25 dos 26 lotes regionais. Perdeu apenas o lote 3, que abrange municípios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, para o Banco Mercantil.

Atualmente, o INSS arrecada R$ 6 bilhões por ano com leilões realizados anteriormente. Até 2006, o governo remunerava os bancos pelo pagamento dos benefícios.

Além da Crefisa, Mercantil, Itaú e Bradesco demonstraram interesse, disputando a primeira colocação.

Esta não é a primeira vez que a Crefisa arremata lotes do leilão do INSS. Na última edição do certame, em 2019, o banco ganhou oito lotes, incluindo grandes regiões como a cidade de São Paulo e a capital e interior do Rio.

Sua principal atuação, porém, é nas operações de crédito pessoal, inclusive com ofertas para quem está com o nome negativado. A taxa de juros cobrada pela Crefisa é de 1,83% ao mês, ou 24,34% ao ano, a 19ª menor taxa entre 85 operadores, segundo dados do Banco Central.

Nos empréstimos consignados para beneficiários do INSS, o percentual é de 1,69% ao mês e 22,28% ao ano, a décima mais alta entre os bancos que atuam no setor. Já no rotativo do cartão de crédito, a Crefisa tem a maior taxa de juros entre 64 instituições financeiras: 22,07% ao mês e 994,68% ao ano.

Fora do Palmeiras

Conhecida também por estampar a camisa do Palmeiras, a Crefisa, presidida por Leila Pereira que também comanda o time paulista, foi fundada há 60 anos pelo empresário José Roberto Lamacchia, casado há quatro décadas com Leila. O banco é o principal patrocinador do clube paulista desde 2015, presente nas categorias de base e nos times profissionais masculino e feminino.

Mas Leila afirmou, em entrevista publicada hoje no GLOBO, que, em dezembro, a instituição financeira vai deixar de ser a patrocinadora do time.

A Crefisa foi procurada, mas não respondeu.

Fonte: O Globo

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