O azeite de oliva extra virgem está historicamente entre os 10 produtos com mais fraudes no mundo, alerta Sandro Marques, degustador profissional de azeites e jurado da New York International Olive Oil Competition. Ele explica que a maior incidência de fraudes e falsificações em azeite está nos que são importados a granel, ou seja, a empresa compra uma quantidade grande do exterior e envasa no Brasil.
— A gente não pode afirmar que todo azeite a granel envasado no Brasil é fraudado, mas isso é uma pista, é um sinal de alerta, é um sinal amarelo. Primeiro, porque esse azeite ao ser envasado, ele já pode sofrer alguma degradação, já não fica um azeite de uma qualidade muito alta. Segundo, isso é a porta aberta para que se introduzam outros elementos, para que se misture esse azeite com óleos de outra natureza, para fazer ele render mais. O que o importador, o que esse importador fraudador quer fazer é que o azeite renda mais, porque aí ele lucra mais. Ele já compra um preço baixo e aí ele lucra mais — revela Marques, que é autor do livro “Extrafresco: o guia de azeites do Brasil”.
Sandro Marques diz que a primeira dica é olhar o contrarrótulo do azeite e ver se ele foi envasado, ou seja, se foi comprado lá fora, envasado no Brasil.
— Se o preço dele estiver muito abaixo da média de mercado, isso também é outro indicativo de algo está errado. O azeite é um produto naturalmente caro, por conta da demanda e do volume de produção que não acompanha essa demanda. Ele está historicamente entre os 10 produtos com mais fraudes no mundo todo.
Ele detalha que o azeite atrai fraudadores não apenas no Brasil:
— Ele é um produto que atrai fraudadores no mundo todo, justamente por conta de brechas na legislação. É fácil, é um produto que não exige muita tecnologia para que ele seja fraudado.
Sandro Marques acrescenta que, normalmente, esses azeites que já são importados com a intenção de fraudar:
— São azeites de baixíssima qualidade sensorial. Isso vai se refletir num aroma de azeitona meio estragada, de azeitona em conserva. Isso é um erro bastante comum do consumidor de achar que azeite tem que ter cheiro de azeitona — ensina.
O especialista revela que a azeitona é uma fruta que, após a azeitona ser esmagada para produzir o azeite, acontece uma série de reações químicas que proporcionam “perfumes incríveis para azeite”.
— Mas normalmente, esses perfumes são de folhas verdes, de ervas frescas, e não um aroma pesado de coisa estragada.
O escritor costuma dar uma dica para o consumidor ir aprendendo a escolher azeites de melhor qualidade:
— Compre um azeite mais carinho, faça uma pesquisa, aproveite agora o Natal. Compre um azeite mais caro, um azeite brasileiro de alta qualidade, e junto compre um azeite mais comum de prateleira ou algum que desconfie. Faça o teste comparativo, porque a gente só consegue perceber essas coisas fazendo o teste comparativo.
Sandro Marques afirma que o azeite de alta qualidade tem um aroma mais fresco, e um azeite de baixa qualidade tem um aroma mais pesado, que lembra conserva de azeitona.
— O caso das azeitonas é para a gente prestar atenção também. Não que elas sejam fraudadas, mas é muito comum encontrar azeitonas dessas que a gente compra a granel nos mercadões mal armazenadas. Sobe um cheiro que é um cheiro meio podrinho. Esse é um dos cheiros que o azeite ruim adquire quando é falsificado.
O especialista orienta ainda que se olhe a qualidade de impressão do rótulo do azeite:
— A gente nota nesses azeites fraudados que a qualidade de impressão do rótulo é inferior aos azeites que a gente encontra nas redes de supermercado de marcas conhecidas e reconhecidas.
Ele afirma que as grandes redes de supermercado têm estado mais atentas às fraudes:
— Por isso, tem sido mais difícil encontrar azeite fraudado nas grandes redes. Mas aqui em São Paulo, por exemplo, se for para um bairro a três quilômetros, que existem pequenos supermercados independentes, pequenas vendinhas, com umas marcas de azeite desconhecidas, que não existem nos supermercados grandes e que estão com preço abaixo. Aí é outro sinal de alerta também.
Ele ressalta que há uma diferença entre o azeite fraudado e aquele com defeitos sensoriais:
— A gente sempre precisa ter um cuidado porque uma coisa é um azeite fraudado em que se deliberadamente se misturou outro óleo para fazer ele render mais. Outra coisa é o azeite com defeitos sensoriais. Ou seja, a questão dele é de não conformidade com os parâmetros sensoriais para ser chamado de extra virgem. Então ele não foi fraudado.
Ele diz que é muito comum é um azeite que deveria ser classificado como virgem esteja rotulado como extra virgem.
— É difícil explicar isso para o consumidor porque já exigiria bastante treinamento sensorial. Às vezes, coloca-se tudo no saco de fraude, e o que existe é uma não conformidade. O azeite ficou rançoso, foi mal transportado, então não é fraude nesse sentido de mistura, mas é uma não conformidade.
Já Andréa Madalena Maciel Guedes, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, afirma que é difícil para o consumidor identificar um azeite falso.
— O que costumamos recomendar é que prefira os envasados na origem. Quanto à autenticidade, seria isto. Supondo que seja um azeite de oliva autêntico, que seja de data de fabricação mais recente. Além disso, o consumidor sempre deve ficar atento às listas divulgadas pela fiscalização também.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) também dá orientações à população para identificar um azeite com suspeita de fraude. São elas:
- Desconfie sempre de preços abaixo da média;
- Se possível, verifique se a empresa está registrada no Ministério da Agricultura (clique aqui);
- Confira a lista de produtos irregulares apreendidos em ações do órgão (clique aqui)
- Não compre azeite a granel;
- Atenção à data de validade e aos ingredientes contidos;
- Opte por produtos com a data de envase mais recente.
Fonte: O Globo