Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, logo trouxeram com eles a escravidão, prática que forçava homens e mulheres trazidos da África a trabalhar. Ela acabou –pelo menos no papel– em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. Mas, para que isso fosse possível, houve luta e sofrimento dos negros que viviam no país.
Um dos símbolos dessa resistência foi Zumbi, último líder do Quilombo dos Palmares, que fica no atual estado de Alagoas. Quilombos eram comunidades formada principalmente por pessoas negras que fugiam da escravidão, e o de Palmares chegou a reunir mais de 20 mil pessoas, tornando-se um dos maiores da América Latina.
“Zumbi era um filho de escravizados que nasceu no quilombo e nunca aceitou que aqueles que conseguiam fugir da escravidão voltassem a ela”, afirma Daniel Neves, historiador e professor da Rede Omnia, voltada à educação.
Por sua importância, Zumbi é homenageado no Dia da Consciência Negra, que o Brasil comemora em 20 de novembro —ele morreu neste dia, no ano de 1695. A ideia de celebrar essa data surgiu no início dos anos 1970, mas só se tornou feriado nacional em 2023.
“O 20 de novembro é uma data de manifestação, que traz visibilidade para a população negra e, principalmente, para as violências que ela ainda sofre nas mais diferentes áreas”, afirma Deivison Campos, pesquisador do tema e professor universitário na PUC do Rio Grande do Sul.
Como é uma data de manifestação, costumam ocorrer nela marchas por direitos e contra o racismo em diversas cidades.
Sim, porque mesmo depois de 330 anos da morte de Zumbi, o racismo ainda existe.
“A causa pela qual ele morreu continua afetando a maioria da população brasileira diariamente”, diz Deivison, lembrando que negros são mais de 50% da composição do país.
Zumbi segue sendo uma referência contra o racismo. Tanto é que a data emociona a pernambucana Maria Eduarda Silva. Em 20 de novembro de 2023, ela foi escolhida como a primeira jovem ativista negra da Unicef, agência ligada à ONU cuja missão é proteger os direitos de crianças e adolescentes em todo o mundo.
No mesmo evento em Brasília de que ela participou houve o lançamento de um projeto chamado Primeira Infância Antirracista , que busca alertar sobre os problemas do racismo no desenvolvimento das crianças.
“Lembro que quem cantou o Hino Nacional naquele dia foi uma mulher preta. E, ao meu lado, havia vários outros pretos”, diz ela. “Para mim, ver aquelas pessoas ocupando espaços me deu esperança.”
Ela conta que ter crescido em uma família que sempre exaltou a pele preta foi fundamental. É comum Soffia ouvir relatos de pessoas que, depois de ouvir suas letras, pararam de alisar o cabelo e começaram a gostar de ser pretas. E ela só conseguiu trazer esse impacto porque, quando criança, não deu ouvidos para quem questionava sua música.
“Diziam que eu era muito pequena para cantar temas tão fortes ligados ao racismo, mas muita criança sofre racismo e ninguém faz nada. Eu sabia que poderia influenciar positivamente e, por isso, nunca pensei em mudar.”
Fonte: Folha de S. Paulo


