Pesquisas brasileiras estão na vanguarda dos estudos sobre o Alzheimer

No Brasil, Alzheimer afeta 1,9 milhão de pessoas e pode triplicar até 2050 - Bruno Santos -10.set.2023/Folhapress

Carolina Pedrosa produz minicérebros humanos no seu laboratório a partir de amostras celulares de pacientes de Alzheimer e testa o efeito de substâncias psicoativas nesses organoides. No futuro, os resultados da pesquisa da professora do Idor (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino) podem abrir caminhos inéditos para o tratamento dessa demência.

Segundo a especialista, a ideia surgiu a partir de evidências de existirem efeitos anti-inflamatórios promovidos por certos psicodélicos. Desde o início dos estudos, também observou-se que esses compostos são capazes de estimular a plasticidade cerebral e a criação de novos neurônios.

Como um dos principais sintomas das doenças neurodegenerativas é justamente a perda de células do cérebro, Pedrosa busca desvendar se os psicotrópicos, como o LSD, são capazes de desacelerar o avanço do Alzheimer. Até o momento, os resultados foram promissores, diz a pesquisadora: o tratamento levou ao aumento de neuritogênese —produção de neurônios— e redução da presença de espécies oxidativas.

Esses efeitos pontuais, se comprovados em estudos clínicos posteriores, podem ajudar no desenvolvimento de novos fármacos que auxiliem tratamentos já existentes e na mitigação de sintomas dos pacientes. Mas a especialista adverte que ainda só existem evidências desses efeitos em laboratório.

Pesquisadores brasileiros como Pedrosa estão expandindo as fronteiras do conhecimento sobre o Alzheimer, e os resultados de seus trabalhos têm chamado a atenção de especialistas no mundo todo. Os avanços incluem desde testes mais precisos de detecção até o desenvolvimento de moléculas com potencial terapêutico.

O Alzheimer é caracterizado pela perda progressiva da memória e de outras funções cognitivas. No Brasil, atinge cerca de 1,9 milhão de pessoas, segundo o estudo Carga Global de Doenças, e irá triplicar até 2050. Até o momento, não existe cura para essa condição, mas há tratamentos disponíveis que são capazes ou de aliviar os sintomas dos pacientes ou de desacelerar o progresso desse mal.

É por isso que os especialistas advogam pela prevenção como melhor resposta ao cenário de envelhecimento populacional do país. Embora a carga genética tenha um papel importante para o surgimento das demências, existem fatores que aumentam risco do paciente e podem levar os sintomas ao aparecimento precoce e à progressão acelerada.

São 14 os fatores de risco para Alzheimer reconhecidos internacionalmente e ditos modificáveis, isto é, que podem ser prevenidos. Olhando para estes, a professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Claudia Suemoto, resolveu investigar quais possuem maior impacto no Brasil.

A especialista coordena estudos epidemiológicos de larga escala, com mais de 100 mil participantes. Os resultados de seus trabalhos já mostraram, com grande ineditismo, que o controle de fatores de risco modificáveis seria capazes de reduzir pela metade o número de casos de demência em toda a América Latina.

Mais recentemente, outro trabalho da pesquisadora mostrou que há uma correlação entre o consumo de adoçantes artificiais e o aumento do número de casos de demência no país. A compreensão de epidemiologia da doença abre caminhos tanto para traçarmos ações individuais de prevenção quanto para orientar o poder público no desenho de políticas que melhor respondam à realidade brasileira.

Eduardo Zimmer, da UFGRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), também busca entender a influência desses fatores de risco na evolução do Alzheimer. Recentemente o professor e pesquisador participou de um trabalho com especialistas de mais 40 países que levou à conclusão de que instabilidade política, poluição do ar e desigualdade de renda são fatores que aceleram o envelhecimento.

Em outra frente de trabalho, Zimmer busca jogar luz na fisiologia do cérebro que está envolvida no surgimento e na evolução da doença. Uma parte de seu trabalho busca entender o papel dos astrócitos, células de suporte neuronal, que, ao falharem, podem levar à perda cognitiva.

“Até pouco tempo atrás, todos os dados sobre o Alzheimer eram provenientes do norte global. Mas o que acontece lá não é necessariamente o que acontece no Brasil”, afirma Mychael Lourenço, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Instituto D’Or. Por isso, segundo o especialista, é importante que tenhamos estudos feitos no país que sejam ajustados à realidade da nossa população.

Além de estudos com fatores de risco, Lourenço acredita que, olhando para o cérebro de pessoas com predisposição ao desenvolvimento de Alzheimer, mas que não chegam a ter a doença, podemos encontrar novos tratamentos e preventivos. Seu objetivo é identificar novos alvos terapêuticos que possam servir como candidatos a fármacos.

Outro pesquisador interessado em entender a resiliência do cérebro de certas pessoas é o professor Paulo Caramelli, da Universidade Federal de Minas Gerais. Em particular, o especialista quer entender o fenômeno dos super-idosos, pessoas com mais de 75 anos com um desempenho cognitivo melhor do que a média para sua faixa etária.

Resultados de um estudo conduzido pelo professor destacam a importância de controlar fatores como diabetes, hipertensão, obesidade, sedentarismo, depressão e tabagismo. Além disso, a escolaridade, diretamente relacionada à reserva cognitiva do indivíduo, se mostrou um aspecto de especial relevância na realidade brasileira.

Fonte: Folha de S. Paulo

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