O que é fibromialgia, reconhecida por lei como deficiência?

Fibromialgia acomete principalmente as mulheres Foto: Oleksandr/Adobe Stock

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que equipara a fibromialgia, síndrome crônica caracterizada por dor generalizada, a uma deficiência. Com isso, pacientes com o quadro passarão a ser considerados legalmente como pessoas com deficiência.

A medida entrará em vigor em janeiro de 2026. Com ela, os pacientes poderão se beneficiar de políticas específicas, como gratuidade no transporte público, atendimento prioritário, isenção de impostos e Benefício de Prestação Continuada (BPC).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), cerca de 3% da população brasileira tem fibromialgia, síndrome caracterizada por dores nos músculos e nas articulações, além de questões como tontura, fadiga, ansiedade e depressão.

O que é a fibromialgia

Além da dor no corpo todo, a fibromialgia cursa com fadiga, sono não reparador (quando, mesmo após dormir, uma pessoa ainda acorda cansada), alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais.

Os problemas podem surgir aparentemente sem motivo e os resultados dos exames podem ser surpreendentes: normalmente, não indicam alterações. Muitos vivem, então, um longo “vaivém” em consultas até conseguirem respostas.

Também por isso, a crença de que os sintomas não são reais é uma das maiores dificuldades para quem convive com a fibromialgia.

De maneira geral, a doença é caracterizada por uma disfunção do sistema nervoso central. “Ou seja, um estímulo de dor que poderia ser normal para algumas pessoas faz com que ela seja mais intensa para o portador de fibromialgia”, explica Henrique Dalmolin, chefe da equipe de reumatologia do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas.

“Estímulos que não seriam dolorosos, como um abraço ou o toque da roupa, podem se tornar muito desconfortáveis”, detalha o reumatologista Joaquim Vasques, do Hospital Santa Paula e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Outro importante aspecto do quadro é que, de cada 10 pacientes, sete a nove são mulheres. Mas a razão para isso ainda é desconhecida. De acordo com a SBR, não parece haver uma relação com hormônios, pois a fibromialgia afeta as mulheres tanto antes quanto depois da menopausa.

A idade de aparecimento também varia. Geralmente, os sintomas surgem entre os 30 e 60 anos, mas há casos em pessoas mais velhas, bem como em crianças e adolescentes.

Outros sintomas

A dor da fibromialgia costuma ser crônica e difusa, compreendendo o corpo todo. No entanto, alguns pacientes podem senti-la de forma mais focal, como nas articulações ou nos músculos. Ela também pode variar na sua intensidade e localização ao longo dos dias.

É comum que as pessoas com fibromialgia sintam muita fadiga e cansaço, com dificuldade de executar as tarefas do dia a dia. Outro problema frequente é a “névoa mental”, sensação de perda de clareza no pensamento.

A hipersensibilidade à dor também pode se associar a outros distúrbios, como enxaqueca, intestino irritável e desconfortos na bexiga.

Quais as causas da fibromialgia

Não existe uma causa única ou clara para a fibromialgia, mas há algumas pistas. “O que acontece é a interação de diversos fatores, levando à hipersensibilidade do sistema nervoso à dor”, descreve Vasques. Ele lista os seguintes aspectos:

  • Genética: há associação familiar entre os casos de fibromialgia;
  • Traumas: a condição pode surgir após traumas físicos ou até infecções graves;
  • Estresse: traumas psicológicos, como acidentes de carro e a morte de parentes, também podem funcionar como gatilho para a síndrome;
  • Sedentarismo e distúrbios do sono.

Um mecanismo importante é o desequilíbrio químico dos neurotransmissores que modulam a dor no sistema nervoso, como a serotonina e a noradrenalina. “Com essa hipersensibilidade, a pessoa com fibromialgia pode sentir dor constantemente”, explica o médico.

Resumindo, é como se o cérebro de quem tem fibromialgia estivesse com um “botão de volume” da dor desregulado, fazendo o sistema nervoso amplificar qualquer estímulo doloroso.

Em geral, o quadro começa com uma dor crônica localizada e depois se espalha pelo corpo. Mas ainda não se sabe por que algumas pessoas desenvolvem fibromialgia e outras não.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da fibromialgia é clínico, ou seja, baseado no que o paciente relata e na avaliação do médico. Não existe um exame específico para confirmar a síndrome. Por isso, boa parte da análise é feita por meio da exclusão de outras possibilidades.

O médico avalia os sintomas e descarta outras causas de dor no corpo, como alterações hormonais, falta de vitaminas ou doenças nos ossos. Se essas causas forem excluídas, a condição pode ser identificada como fibromialgia.

Além disso, de acordo com a SBR, alguns critérios que podem ser usados para o diagnóstico da síndrome são:

a) dor por mais de três meses em todo o corpo e

b) presença de pontos dolorosos na musculatura (11 pontos, de 18 que estão pré-estabelecidos).

Não há ainda um consenso quanto à definição dos pontos de dor, mas mesmo os pacientes que não apresentam todos os pontos podem receber o diagnóstico e iniciar o tratamento.

Qual o tratamento para fibromialgia?

Segundo Dalmolin, o tratamento é baseado em dois pilares: atividade física e uso de medicamentos.

Vasques reforça a importância dos exercícios para o quadro: “É muito recompensador quando atendemos pacientes com fibromialgia que têm a sua qualidade de vida transformada pela atividade física”.

O exercício pode melhorar a dor, os problemas de sono e até os sintomas cognitivos. Além disso, os médicos destacam que não há nenhuma atividade proibida para as pessoas com o quadro. “Vale caminhada, corrida, bicicleta, natação, hidroginástica, musculação, funcional, pilates… O importante é cansar o corpo”, diz Vasques.

Também é recomendável aumentar progressivamente a intensidade do exercício e buscar um tempo de atividade de, no mínimo, 150 minutos por semana.

Quanto às medicações, analgésicos podem ajudar em dias de dor mais intensa ou no início da prática de exercícios. Também podem fazer parte do tratamento medicamentos que ajudam a equilibrar os neurotransmissores ou que reduzem o limiar de dor percebido pelo sistema nervoso.

Por fim, um terceiro aspecto fundamental é o acompanhamento psicológico. “Quem convive com a fibromialgia precisa de ajuda para lidar com os pensamentos negativos que vêm com a dor crônica e conseguir enfrentar a doença”, explica Vasques.

Fonte: Estadão

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